Dia 11/01/2017 o Comitê de Política Monetária (COPOM) resolveu reduzir a taxa Selic em 0,75%, cuja meta passou a ser 13% a.a. Desde então percebi em alguns fóruns e grupos sobre finanças que participo que a galera já está entrando em desespero e querendo girar seu patrimônio da renda fixa pós fixada para a pré fixada, incentivados por notícias superficiais da mídia e por "especialistas" que divulgam boletins com tons terroristas e fornecendo uma solução milagrosa caso você faça uma assinatura e pague um "pequeno valor". Mais ou menos assim:
Algumas considerações a respeito:
1) Não adianta trocar o pós fixado pelo pré fixado agora, pois este último já havia sido precificado anteriormente pelo mercado, que já previa a redução da Selic. Emprestando as palavras de um colega da blogosfera: "chegou atrasado na festa e já vai embora, antes do final?", pois a época de comprar pré fixado com taxas altas já passou, no meio da crise do impeachment de Dilmão. Claro que, na época, não era trivial determinar que aquele era o momento de pico dos prefixados, mas quem pôde assumir um pouco mais de risco irá colher os frutos de sua decisão;
2) Esse movimento de troca do pós pelo pré fará com que você pague IR durante a troca, valor este que, se você mantê-lo na aplicação, irá somar ao montante para o cálculo dos juros compostos até o vencimento do título;
3) O índice IPCA de 2016 divulgado pelo governo de 6,29% em 11/01/2017 permite que exista ganho real em um investimento pós fixado, até porque o controle da inflação é feito, pelo governo, principalmente através do aumento ou redução da taxa Selic, elas estão sempre de "mãos dadas", se uma aumenta a outra aumenta, se uma diminui a outra também diminui. Caso queira mudar de modalidade de investimento, aplique dinheiro novo, não gire patrimônio;
4) Normalmente nossas aplicações são feitas com base em um planejamento anterior que almeja o cumprimento de determinadas metas estabelecidas por nós. Nesse aspecto podemos tomar emprestado alguns ensinamentos de planejamento estratégico da área de administração e adaptá-los ao mundo das finanças:
a) estabelecimento de Missão, Objetivos e Metas: Missão seria o porquê dos investimentos, a causa principal, normalmente é "alcançar a independência financeira". Objetivos e metas são as etapas intermediárias que devem ser buscadas e cumpridas no trajeto rumo à missão.
Os objetivos e metas devem ser traçados observando parâmetros conhecidos como SMART, onde S é specific (específico), ou seja, não se pode ter metas e objetivos genéricos como "conseguir juntar dinheiro em 2017"; M significa measurable (mensurável), que determina que os objetivos e metas devem ser passíveis de determinação numérica, por exemplo "acumular R$20.000,00 de patrimônio durante 2017"; A significa Achievable, que significa alcançável, pois não adianta estabelecermos metas que não podem ser alcançadas, como por exemplo (propositalmente absurdo) estabelecer uma meta de "adquirir uma casa de 2 quartos, varanda e 2 vagas de garagem no Sol"; R, por sua vez, remete a Realistic, que quer dizer que a meta deve ser planejada dentro de uma perspectiva realista da pessoa, pois não adianta ter uma meta de acumular um milhão de reais em um ano se a pessoa tem como rendimento um salário mínimo por mês. A meta é mensurável (um milhão), é alcançável mas não é realista para o período proposto; por fim, T é time bound, que significa que as metas e objetivos devem ser "calendarizados", ou seja, colocados num cronograma temporal no qual seja possível cumpri-las.
b) formulação de estratégias e planos de ação: agora que você já sabe onde que chegar no final (Missão) e onde você quer chegar em cada etapa rumo ao objetivo final (objetivos e metas), você deve preocupar-se em como chegar ao final de cada etapa e, consequentemente, no objetivo final. Nesse momento você define quais os tipos de investimento irá realizar para alcançar a independência financeira, e deverá manter seus planos independentemente dos ruídos externos do mercado (como esse caso da queda da Selic e o "fim do mundo"). Uma eventual modificação dos seus planos somente poderá ser realizada nas circunstâncias do item "c" abaixo.
c) monitoramento e controle: aqui o investidor deverá monitorar o andamento de seus investimentos e verificar se as metas estão ou não sendo cumpridas e, em caso negativo, encontrar a causa e verificar alternativas ou correções nas estratégias ou planos de ações, ou até mesmo redefinir os objetivos e metas caso elas percam alguns dos parâmetros SMART.
5) Nota-se que o planejamento estratégico é cíclico, pois o monitoramento e controle pode levar a um novo estabelecimento de missão, objetivos e metas, que demandarão novas estratégias e planos de ação, que por sua vez irão demandar um novo monitoramento e controle.
Um bom conhecimento de sua situação atual, da situação que pretende atingir no futuro e conhecimento de fato sobre os caminhos escolhidos e possíveis para se alcançá-la, são necessários para que o investidor não se perca no caminho e acabe tomando atitudes não racionais baseadas no medo ou em outros sentimentos.
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